Die Enttauschung
Rudi Mahal clarinete baixo
Axel Dorner trompete
Jan Roder contrabaixo
Uli Jennessen bateria
É impossível ouvir este disco sem ter em conta que estão aqui 4/5 do grupo de “Monk’s Casino”, só faltando o mentor desse projecto, Alexander von Schlippenbach. E se não é o “songbook” de Thelonious Monk que agora os ocupa, a referenciação nessa gigantesca figura do bop não é menor neste “Die Enttauschung”, isso porque os 17 curtos temas incluídos, todos originais, seguem ainda o formato que cunhou com Charlie Parker, Dizzy Gillespie e Bud Powell. Mas não se pense que de um modo passivo e estilisticamente reprodutor – sim, Monk (o compositor e o estilista, que não o pianista) está muito presente nesta música, mas também Ornette Coleman. Trata-se, mais exactamente, de free bop, com estruturas abertas e desenvolvimentos que o fundamento estético abraçado não faria prever, aqui ou ali com o recurso, até, a técnicas extensivas, sobretudo no caso de Dorner. Rudi Mahall confirma-se definitivamente como um excelente músico, e neste CD o seu clarinete baixo chega mesmo a soar como um saxofone, tais são a fluência e a mobilidade dos seus fraseados. É ele quem mais brilha ao longo das peças, com intervenções altamente convincentes tanto em termos da sua lógica de exposição como de sensibilidade (um bom exemplo é “Oben Mit”), mas Axel Dorner vai-lhe sempre no encalce, como se o trompete fosse a sua sombra. Atenção também à performance do baterista, Uli Jennessen, ora geométrico, ora tornando padrões rítmicos pueris (o brasileiro de “Drive it Down on the Piano” e o hispânico de “Very Goode”) em momentos de alívio de tensão.
Anthony Braxton Willisau Solo
Anthony Braxton saxofone alto
Quase 40 anos depois da edição do primeiro disco a solo alguma vez feito com um saxofone (“For Alto”, 1968), até hoje um marco fundamental não só do enorme espólio gravado de Anthony Braxton como da própria história do jazz, eis que sob o nome do músico americano surge mais um título com esse formato, registado ao vivo no Festival de Jazz de Willisau a 1 de Setembro de 2003. Se ouvir Braxton a sós com o seu alto se tornou num ícone, o curioso é que nenhuma sensação de “já ouvido” nos invade ao longo da audição deste excelente álbum. Ao músico-filósofo-matemático nunca parecem faltar ideias e soluções, pelo que cada um dos temas incluídos (só o “standard” “All the Things You Are” não é seu) é totalmente distinto dos outros em termos de materiais e técnicas, sempre com o carácter exploratório do instrumento que já encontráramos no referido “For Alto”. Se os elementos surpresa e atrevimento se dissiparam, a destreza com que toca não deixa de nos abismar – ainda que, por incrível que pareça, continue a haver quem duvide das superiores capacidades do saxofonista. Com a interpretação do tema de Jerome Kern aqui contida, até esses terão de se calar – Braxton pode ser um símbolo de inovação, mas a forma como se baseia na tradição do jazz é exemplar.
Topos
Agustí Fernández piano
Evan Parker saxofone tenor e soprano
Barry Guy contrabaixo
Paul Lytton bateria
Do encontro entre o pianista Agustí Fernandez com o trio “clássico” de Evan Parker só podia resultar em algo como este “Topos”. Com o quarteto a desdobrar-se em dois trios e dois duos, além das faixas com todos os participantes, o que aqui encontramos pode não surpreender quem conheça bem o trajecto destes músicos – os multifónicos de Parker no soprano, as manipulações do interior do piano por parte de Fernandez, o trabalho com arco de Guy no contrabaixo e as texturas percussivas de Lytton estão amplamente representadas nas respectivas discografias –, mas o interessante deste trabalho é o facto de enquadrar a livre-improvisação com um investimento em que se verificam claras cumplicidades com a música contemporânea. A influência de Xenakis é tão ou mais importante no jogo pianístico do catalão quanto a de Cecil Taylor, e para todos os efeitos fica aqui atestado até que ponto as práticas improvisacionais britânicas são filhas do equacionamento do jazz americano com a música erudita europeia. O facto de o presente álbum sair na Maya, etiqueta que junta a nova música à música antiga, já é por si suficientemente explícito.